Inside Brazilian Art
Um panorama sobre as artes plásticas brasileiras na Alemanha
As artes plásticas brasileiras têm enorme destaque no conjunto das atividades culturais e despertam crescente interesse em alguns dos principais centros internacionais de arte. Com o incentivo do governo, cada vez mais artistas brasileiros participam de importantes eventos artísticos mundiais, o que facilita contatos com galerias, instituições, curadores, críticos e artistas de outros países. A história, porém, é completamente diferente quando nos referimos aos artistas aqui radicados, sem projeto autorizado ou bolsa.
“Cada macaco no seu galho”
A Embaixada brasileira em Berlim, por exemplo, realiza apenas esporadicamente exposições de artistas locais. Sem respaldo do governo, envoltos a outra língua, outra cultura, outro clima, eles ainda precisam entender como funciona o sistema no meio artístico do país escolhido pra viver. Como contatar outros artistas? Viabilizar projetos? Formular exposições?
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“Nem tudo que reluz é ouro”
Ludovico sobrevive do próprio trabalho, mas viver exclusivamente das artes é privilégio de poucos. Entre esses está incluído Alex Flemming, cujas obras são avaliadas entre mil e 25 mil euros. “Cada trabalho custa muito dinheiro e precisa ser vendido, mas os mais caros raramente saem”, esclarece. Até mesmo ele, que já participou de três Bienais em São Paulo, vive entre Brasil e Alemanha e já expôs em vários países ao redor do mundo, reclama que às vezes falta o dinheiro do aluguel. “O mundo das artes plásticas tem um brilho absolutamente falso. Super chique, descolado. Mas é durésimo. Cheio de altos e baixos”, explica Flemming, que diz trabalhar feito um mouro para conseguir fazer a ponte entre os dois países.
Mas artista que é artista vive mesmo das artes, mesmo que não seja da própria. Assim sobrevive às vezes o paraibano Flauberto, montando exposições de outros artistas. Batendo martelo, literalmente, e pendurando quadros. Ele garante que produz bastante e corre atrás, mas o que consegue é participar de projetos beneficentes – atualmente representa o Brasil na exposição itinerante United Buddy Bears, para a qual pintou a escultura de um urso (símbolo de Berlim) com cerca de dois metros de altura.
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“Quem planta, colhe”
“Tudo depende de como se pisa” é o conselho que Tereza de Arruda dá aos artistas iniciantes. “No Brasil pode-se comprar a imprensa, aqui é necessário conquistá-la. É preciso provar sua habilidade na prática. Perseverança e batalha: é trabalho demais, e é individual”, diz a especialista. Outra recomendação é conquistar espaço alemão, do contrário, a repercussão permanece muito limitada. “Tem que ser humilde e começar por baixo, expor em pequenas galerias para criar receptividade”, finaliza Arruda.
O paulista, berlinense, lisboeta e nova-iorquino (como ele mesmo se define) Flemming dá a sua receita: “quando acordar tem que pisar com o pé direito, rezar para que o dia seja bom, colocar uma dentadura para sorrir e uma armadura para se proteger”. Amém.
LUCIANA WERNERSBACH, de Berlim para a Brazine # 14
Foto: pintura do artista Flauberto, Artista plastico, 1996)
(fragmentos de matéria escrita para a revista Brazine Berlin, de setembro de 2005. Leia completa na revista ou em http://www.brazine.de Ps: o próprio título é um link direto para a página da matéria)